quinta-feira, 28 de maio de 2009

Lisboa em Prosa (1)


Referindo-se à Lisboa de 1500:

“Era a Lisboa ardente e sequiosa, de escassos chafarizes, à beira dos quais o povo e os escravos brigavam pela vez; dos açacais com seu asno e os quatro cântaros engradados, apregoando a água pelas calçadas íngremes; e das mocinhas negras, quase nuas, que a transportavam e serviam com as airosas quartas. Era a Lisboa honrada e mosteirosa dos mesteres esquecidos – atafoneiros, regatões, gibeteiros, esparaveleiros e desses escrivães do Pelourinho Velho, que, abancados às mesas, redigiam, ao sabor dos fregueses, cartas de amor, requerimentos, versos, discursos, epitáfios - , “coisa que em parte alguma das cidades da Europa eu vi jamais”, diria o viajado Damião de Góis.
Era a Lisboa policroma dos faustosos mercadores de toda a Europa, entre os quais predominavam os elegantes florentinos, reluzente das armas cavaleiras e negrejante de hábitos monásticos; e ainda a Lisboa dos moiros – alvanéis, azulejadores e ceramistas – que nas tardes de festa bailava e ondulava aljubas alvas, ao som dos alaúdes e pandeiros”.


Jaime Cortesão

1 comentário:

spring disse...

Caro José Quintela Soares
Jaime Cortesão é um dos maiores vultos da nossa cultura, que infelizmente hoje em dia permanece esquecido.
Abraço cinéfilo
Paula e Rui Lima