terça-feira, 27 de outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Instantâneos (18)



A Sé.
Suja.

Quem por lá passa, observa este espectáculo de abandono.
Ou incúria?

Multidões.
Diariamente.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lisboa em Prosa (5)


“Mas senhores! Já não se vende peixe pelas ruas! Acabaram-se as varinas!”

Desapareceram, sumiram-se das ruelas de Lisboa, apesar de tão enaltecidas por gerações e gerações de jornalistas e até por grandes poetas. Estou a lembrar-me de um agora esquecido que se chamava Carlos Queiroz, e não hesitou em escrever, em quintilhas de improviso, um poema de circunstância que começava assim:

Ó varina, passa,
Passa tu primeiro!
Que és a flor da raça
A mais séria graça
Do país inteiro.

Quase ao mesmo tempo, eu chamava-lhes “sereias de sal”. E alguns anos antes, o Almada dizia, já não sei onde, que “elas traziam o mar nos aventais”.


José Gomes Ferreira

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

À antiga


Lembram-se dos prédios antigos, em que elevador era utopia, e que tinham, mal se entrava, a porta da porteira ou uma arrecadação?
Os corrimões eram gradeados, os degraus de madeira bem encerada, e o ferro que se via era quase sempre trabalhado.
Tempos em que havia esmero na construção.
E trabalho de artistas.


(Fotografia tirada na Rua de S.Julião)

domingo, 4 de outubro de 2009

Lisboa e os Poetas (16)


"HORAS DE SOL"

"Dia de sol! Manhã de sol! Hora de sol!
Manhã lavada, rútila, estival!
Passam varinas a cheirar a sal…
Dia de sol! Manhã de sol! Hora de sol!

Domingo claro, alegre, cristalino,
Como as notas metálicas dum sino,
Como um toque estridente de clarim…
O sol entra nas almas
Como o hálito quente dum jardim…
Andam pregões suspensos pela rua:
“Seis tostões o salamim,
quem quer azeitonas novas?”
E o eco prolongado continua:

“quem quer azeitonas novas?”

Eléctricos ligeiros e amarelos
mordem as calhas…
As rodas são martelos
Arrancando faíscas
Aos rails que parecem duas riscas
De prata nova sobre o chão cinzento…

Dafundo, Lumiar, Brazil-S.Bento…

Cada qual vai atrás do seu destino
através do ambiente campesino
que tem Lisboa num domingo assim…

Lá vai galgando aos poucos o Alecrim
um carro a transbordar de gente moça
que tem na pele um rebrilhar de louça.

Dois a dois, de mãos dadas e almas dadas,
vão merendar nas sombras das estradas…
Sendo tão desiguais e tão diversos
Cada par é uma rima destes versos.

Dia de sol! Manhã de sol! Hora de sol!
Dorme o Tejo debaixo dum lençol
De espinhaços, de côdeas, e de lascas…

-Oh, leva as folhas, leva as cascas! –

No cais, por entre as barcas
a chapinhar nas charcas
andam garotos a molhar os pés…
Lá vai um carro cheio para Algés!"

Fernanda de Castro