segunda-feira, 6 de abril de 2009

Lisboa e os Poetas (12)


"Os Namorados Lisboetas"

"Entre o olival e a vinha
o Tejo líquido jumento
sua solar viola afina
a todo o azul do seu comprimento

tendo por lânguida bainha
barcaças de bacia larga
que possessas de ócio animam
o sol a possuí-las de ilharga.

Sua lata de branca tinta
vai derramando um vapor
precisando a tela marinha
debuxada com os lápis de cor

da liberdade de sermos dois
a máquina de fazer púrpura
que em todas as coisas fermenta
seu tácito sumo de uva."


Natália Correia

2 comentários:

Mª João C.Martins disse...

Forte, completa, impulsiva... a sua voz pode ainda ser ouvida em cada pequeno pedaço da sua obra,com todos os timbres, as convicções, pontos e esclamações que fizeram parte da sua vida enquanto mulher, política e escritora! Singular..

Escreveu sobre si:
"...
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
..."

Um abraço

teresa maremar disse...

Pessoa, Natália e Ary, em colagem, porque, nataliando, tudo em nós é atavicamente marítimo


Ah o grande cais donde partimos em Navios-Nações!
O grande Cais Anterior, eterno e divino! (1)
Enquanto que o Navio-Nação partia
Do Cais Anterior Cais Poesia (2)
Namorados de Lisboa,
à beira Tejo assentados,
a dormir na Madragoa.
Namorados de Lisboa,
num mirante deslumbrados,
à beira verde acordados. (3)
Quanto ao resto
Tudo quanto é pela graça dos deuses mecânico
A roda dos ventos
a roda do sol a roda do leme
Tudo o que gera
gira
e geme (4)



1. Pessoa
2. Natália
3. Ary
4. Natália