sábado, 19 de dezembro de 2009

Lisboa em Prosa (8)


“…Buzina-se (e sobre isso já alguma coisa se tem escrito) logo que o sinal verde se acende. É o microcosmo do ódio negro. A superpressa. Apita-se, para passar de qualquer modo, quando o frenesim pica o condutor. E crepitam, de parte a parte, os enxovalhos.
Um carro vai arrumar: buzina-se. Vai arrancar: à mesma o klaxon estrondeia. Nem civismo, nem educação, nem cordialidade. Um pobre (semipobre) de Cristo, que desemboca de uma rua lateral e enfrenta a torrente do trânsito, tenta a sua sorte por várias vezes: buzinam-lhe, como quem lhe escarra na face.
O egoísmo mais tosco campeia nas ruas abaladas de veículos.
Ora a buzina existe para alertar, mas em situações de perigo. Só para isso. Até para assustar peões ela é odiosa”.


Urbano Tavares Rodrigues

4 comentários:

APS disse...

Caro José Quintela Soares

No tempo conturbado do fachismo e quando não o deixavam trabalhar, esteve no "Jornal do Comércio" quase incógnito.
Era uma pessoa muito correta e delicada.
Tenho por UTR uma certa consideração pelo homem e escritor que sempre foi.
Um abraço
APS

divagarde disse...

Face a outros agentes agressores do ambiente, a poluição sonora vem sendo menosprezada. Ultimamente, pouco se ouve falar acerca.

Neste rio do tempo que flui, há a urgência de chegar, mas é lamentável que as boas maneiras se ausentem.
O peão nem sempre é mais educado - na verdade, somos os mesmos, os que circulam à superfície ou underground, os que conduzem ou se passeiam - [particularmente, irrita-me quem faz da passadeira... passeadeira], todavia, na generalidade, constata-se que as pessoas se transfiguram ao volante, não é apenas o buzinar mas também a falta de educação, de gentileza. Tolerância inclusive.

Mª João C.Martins disse...

São muitos e variados, os sinais de falta de educação e civismo. Consequência directa de um egoismo monstruoso em que cada um apenas enxerga os seus direitos, ou o que pensa serem.
É tão triste....

Aproveito para te desejar, José Quintela, um Natal Feliz, com tudo o que mais desejares ou te fizer falta, e que isso permaneça na tua vida durante todo o Novo Ano.

Um beijinho

Ana Cristina Haderer disse...

A verdade pura e simples. Há uns tempos li no The Guardian um artigo sobre a falta de cortesia dos automobilistas lisboetas...