Aqui, onde o mar acaba e a terra principia. Cidade cinzenta, urbe rasa, sobre colinas, como se só de casas térreas construída, por acaso além um zimbório alto, uma empena mais esforçada, um vulto que parece ruína de castelo, salvo se tudo isto é ilusão, quimera... Ricardo Reis senta-se numa cadeira, passa os olhos em redor, é aqui que irá viver não sabe por quantos dias. (…) Lisboa é uma sossegada cidade com um rio largo e histórico, um grande silêncio que rumoreja, nada mais. (...) "Então vamos" - disse Fernando Pessoa. "Vamos" – disse Ricardo Reis.
Trouxe estes excertos, porque o contraste na foto, entre o zimbório divino e o esvoaçante varal, vai tão em acordo com a prosa de Saramago e os versos de Pessoa.
Na freguesia de Santa Catarina nasceu, viveu e faleceu a eminente escritora, poetisa e grande lutadora pela causa da "condição feminina", Maria Amália Vaz de Carvalho (1847 – 1921), segundo a qual "A mulher é um poder. É preciso aproveitá-la na obra comum da civilização. É necessário, antes de tudo, transformar a educação da mulher (…) Dominar o seu destino, modificá-lo (…), eis uma faculdade que só podem ter as que raciocinam e as que sabem".
(fonte: site da freguesia de Santa Catarina)
Escreveu, entre outras obras, “Uma Primavera de Mulher” e “Vozes no Ermo”.
A sua casa, na Travessa de Santa Catarina, tornou-se no primeiro salão literário de Lisboa, tendo-o frequentado Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro e muitos outros. Casou, em 1874, com o poeta Gonçalves Crespo.
“A REABILITAÇÃO DO AMOR
À indiferença oponhamos o amor, à dúvida oponhamos a fé.
O céu tem ainda o azul radiante dos dias da mocidade; a natureza é ainda a bela insensível, que assiste radiosa e iluminada às nossas lágrimas eternas, que o vento enxuga num momento!
Contemplemos de mais alto a evolução dos ideais e a transformação das coisas.
Se na terra somos efémeros de uma hora, nunca se quebra a cadeia que se vai forjando, dos ideais belos que concebemos ao passar (…)”
Maria Amália Vaz de Carvalho, "Cartas a Luísa" (retirado do site “Projecto Vercial”)
2 comentários:
Aqui, onde o mar acaba e a terra principia. Cidade cinzenta, urbe rasa, sobre colinas, como se só de casas térreas construída, por acaso além um zimbório alto, uma empena mais esforçada, um vulto que parece ruína de castelo, salvo se tudo isto é ilusão, quimera...
Ricardo Reis senta-se numa cadeira, passa os olhos em redor, é aqui que irá viver não sabe por quantos dias.
(…)
Lisboa é uma sossegada cidade com um rio largo e histórico, um grande silêncio que rumoreja, nada mais.
(...)
"Então vamos" - disse Fernando Pessoa. "Vamos" – disse Ricardo Reis.
Saramago, in O Ano da Morte de Ricardo Reis
E Pessoa vai...
Roupa estendida ao vento
Parece gente a viver
Move-se em gesto sem tento
Perante o meu pensamento
Que não sabe senão ver.
Mas o que fazem no mundo
Os homens nos gestos seus
Nada é mais firme ou profundo
Que este ar nas roupas ao fundo
Dos grandes quintais de Deus.
Trouxe estes excertos, porque o contraste na foto, entre o zimbório divino e o esvoaçante varal, vai tão em acordo com a prosa de Saramago e os versos de Pessoa.
Na freguesia de Santa Catarina nasceu, viveu e faleceu a eminente escritora, poetisa e grande lutadora pela causa da "condição feminina", Maria Amália Vaz de Carvalho (1847 – 1921), segundo a qual "A mulher é um poder. É preciso aproveitá-la na obra comum da civilização. É necessário, antes de tudo, transformar a educação da mulher (…) Dominar o seu destino, modificá-lo (…), eis uma faculdade que só podem ter as que raciocinam e as que sabem".
(fonte: site da freguesia de Santa Catarina)
Escreveu, entre outras obras, “Uma Primavera de Mulher” e “Vozes no Ermo”.
A sua casa, na Travessa de Santa Catarina, tornou-se no primeiro salão literário de Lisboa, tendo-o frequentado Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro e muitos outros. Casou, em 1874, com o poeta Gonçalves Crespo.
“A REABILITAÇÃO DO AMOR
À indiferença oponhamos o amor, à dúvida oponhamos a fé.
O céu tem ainda o azul radiante dos dias da mocidade; a natureza é ainda a bela insensível, que assiste radiosa e iluminada às nossas lágrimas eternas, que o vento enxuga num momento!
Contemplemos de mais alto a evolução dos ideais e a transformação das coisas.
Se na terra somos efémeros de uma hora, nunca se quebra a cadeia que se vai forjando, dos ideais belos que concebemos ao passar (…)”
Maria Amália Vaz de Carvalho, "Cartas a Luísa" (retirado do site “Projecto Vercial”)
António de Sepúlveda
Enviar um comentário