Feira da Ladra. Velharias espalhadas pela rua, também ela velha. Gente nova a vender, sabe-se lá para quê. Novos e velhos a observar, alguns a comprar.
“É terça-feira…Feira da Ladra…” diz Sérgio Godinho.
Há poucos, hoje em dia. Muito poucos. Mas durante décadas foram eles que garantiram um mínimo de ordem no trânsito de Lisboa, então ainda não caótico como agora. Recordo o Inácio, com os seus peculiares gestos, que se tornou uma figura carismática da cidade. “Cabeças de giz”, na voz do povo. Sinaleiros.
Representa apenas o resultado da galopada desenfreada com que o cimento tem cavalgado em Lisboa. Onde eram campos, apareceram bairros. Onde havia verde, apareceram outras cores.
O que resiste, assiste. Inerte. Com ou sem vento. Inexoravelmente.
Esta é mesmo da Lisboa que rapidamente vai desaparecendo. “Foreiro a” é sinónimo de “arrendado a”. Imaginem se, hoje em dia, em cada andar alugado existisse uma placa a dizer “Arrendado a”… Outros tempos…
O velho candeeiro de Lisboa lá está, cumprindo a sua missão, alheio a épocas e modas, gentes e veículos. À espreita, talvez com uma ponta de inveja, um bem mais colorido familiar caseiro, à janela, gostaria de o imitar. Nem em sua casa é rei…quanto mais de uma rua!
Também me parece que só à bastonada…perante o que se passa nesta cidade. E de nada valerão as orações da figura ao meio…pois o semblante do seu companheiro à direita, e o punhal do outro, não auguram nada de bom nem de pacífico.
Em Entre Campos, as estátuas são de pedra…mas mesmo assim conseguem avaliar o que fizeram da “Feira Popular”…e não gostaram!